Responsável:
Vanessa Salgado
Morada:
Rua de São Tomé, Nº 90
1100-564 Lisboa
Telefone:
+351 21 881 46 00
Site:
www.fress.pt
Facebook:
@FundacaoRicardoEspiritoSantoSilva
Instagram:
@artesdecorativasfress
E-mail:
geral@fress.pt
Sem os ofícios, as famílias saem da cidade.
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Vanessa Salgado
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Carpintaria / Carpintaria de bancada / Cinzelagem / Conservação e restauro de documentos gráficos / Conservação e restauro de mobiliário / Conservação e restauro de têxteis / Decoração / Douração de balancê / Douração manual / Dourador / Embutidos / Empalhamento / Encadernação / Entalhador / Estofador / Fabricante de papel mármore / Formação / Fundição em moldes de areia / Galvanoplastia / Lacagem / Lanternas em folha de flandres / Latão / Latoaria / Marcenaria / Marchetaria / Papel / Passamanaria / Pintura / Pintura decorativa / Pintura sobre madeira / Polimentos à francesa / Porcelana / Réplicas de azulejos / Reprodução de mobiliário antigo / Restauro / Restauro de porcelanas / Restauro e reparação de candeeiros / Serração e corte de moldes / Serralharia / Talha / Torneiro
A Fundação Ricardo Espírito Santo Silva (FRESS) é uma plataforma que concentra, promove, alerta e divulga e lança profissionais na área das Artes e Ofícios.
A Fundação Ricardo Espírito Santo Silva (FRESS) é uma plataforma que concentra, promove, alerta e divulga e lança profissionais na área das Artes e Ofícios. É criada em 1953, fruto de uma doação de Artes Decorativas de Ricardo do Espírito Santo Silva, que criou o projeto de promoção e divulgação das Artes e Ofícios tradicionais com base num projeto de Museu-Escola. A Fundação nasce, pois, como um Museu-Escola, com um espaço no Palácio Azurara, localizado nas Portas do Sol, em Lisboa, também doado pelo fundador, na altura já com o intuito de, no prazo de cerca de um ano, abrir as oficinas adjacentes ao Museu. No entanto, só mais tarde, já depois da morte prematura do fundador, em 1955, o edifício é doado pelo Estado à Fundação para alargar o projeto inicial.
As oficinas vão-se estabelecendo na Fundação com base na ideia inicial do fundador: convidar mestres que tenham oficinas em Lisboa que estejam a fechar. A primeira oficina a vir para a Fundação é a de batedor de ouro, ofício que estava nas mãos de uma família em Campolide há mais de duzentos anos. Esta família monta oficina na Fundação com o espólio que detinha. A seguir veem os marceneiros, ainda convidados pelo fundador para estabelecerem uma oficina e a dar formação. Nestes meados do século XX, a formação é feita com base num ensino tradicional, de passagem de conhecimento pela experiência direta, para pessoas muito jovens vinham aprender um ofício. Ainda hoje a Fundação tem mestres que iniciam a formação com dez, onze anos. Hoje, o paradigma da formação é outro e define-se a nível académico.
Outras oficinas vão surgindo, como a oficina de encadernação com o seu espólio de ferros de dourar que é hoje a maior coleção de ferros em Portugal e talvez na Europa — do século XVI ao século XIX — para decorações portuguesas e francesas tradicionais. Na realidade o fundador não viu tudo já a funcionar. Foi dada continuidade ao projeto e foram-se acrescentando ofícios, aqueles que, no entendimento do projeto, eram fundamentais para reproduzir e dar continuidade à produção de mobiliário e de acessórios decorativos de excelência, mantendo o lado da conservação e restauro desse mesmo mobiliário. A manufatura ainda hoje é assegurada na Fundação: aqui faz-se tudo, desde o desenho à produção final da peça. É com base nessa produção de manufatura ainda hoje existente que se alicerça a formação profissional.
A manufatura ainda hoje é assegurada na Fundação: controlam todo o processo, desde o desenho à produção final de cada peça.
Neste momento a Fundação tem dezoito oficinas em atividade. Um dos trabalhos mais relevantes aqui executados foi o restauro do fogão de sala da casa Fourdinois, uma casa de marcenaria artística francesa dos finais do século XIX, encerrada no início do século XX, que foi emblemática por ter fornecido casas reais, tendo tido peças apresentadas em exposições universais. Este fogão de sala com seis metros de altura, muitas componentes artísticas de origem e algumas lacunas, pertence à Câmara Municipal de Oeiras. Foi realizado um trabalho de reconstituição histórica e de investigação com o apoio da Escola Superior de Artes Decorativas, prévio à intervenção propriamente dita. O processo de restauro esteve a cargo de uma equipa de marceneiros, entalhadores, cinzeladores, serralheiros, latoeiros e pintores durante dois anos. Outro exemplo é o restauro da farmácia Islâmica, pertencente ao Museu da Farmácia do Porto. Trata-se do restauro de um espólio desmembrado de uma farmácia Islâmica da Síria completamente revestida em madeira pintada. O património islâmico é salvaguardado anualmente, o que leva a que a datação dos elementos que o compõem seja complexa dada a sua diversidade. Trata-se de uma obra global que incluiu pintura decorativa, cinzelagem, douramento, carpintaria, marcenaria, etc. Fez-se, também, o restauro e decoração do Palácio de Seteais, em Sintra, como do Palácio de São Clemente no Rio de Janeiro. Muitas embaixadas espalhadas pelo mundo têm a mão da Fundação. Os seus clientes são hoje essencialmente privados, nacionais e estrangeiros, quer na área de conservação e restauro quer na área de manufatura. Antigamente a Fundação tinha muitas encomendas do Estado que, a certa altura, começa a ter os seus próprios gabinetes de restauro e deixa de recorrer a terceiros.
Para Conceição Amaral, Presidente da Fundação, é vital estar no centro da cidade. Os ofícios tradicionais não são só comércio: um ofício tradicional fixa uma diversidade de profissões que a cidade tem de ter para manter a sua identidade. Sem os ofícios as famílias saem da cidade. Lisboa é historicamente uma cidade de ofícios, a própria estrutura da cidade é organizada pelos ofícios. Havia a Casa dos Vinte e Quatro: extinta em sequência da entrada do liberalismo e da monarquia constitucional, era um órgão deliberativo da administração municipal de Lisboa e, mais tarde, de outras cidades do Império Português, composto por representantes das corporações de ofícios ou guildas. Neste sentido, os ofícios tinham muito poder para regular a cidade e as suas relações comerciais. Hoje, de repente não há douradores na Rua dos Douradores nem sapateiros na Rua dos Sapateiros. Lisboa tem uma grande vantagem sobre muitas outras cidades europeias: o facto de ter havido uma adaptação mais lenta à standardização, permitiu que mantivéssemos quase intacto o lado mais genuíno dos ofícios. Neste momento, há medidas políticas para apoiar as Artes e os Ofícios e é um contributo importante as oficinas estarem em rede.
Os mais jovens estão a voltar aos ofícios, é uma tendência que está a mudar.
Conceição Amaral considera o século XXI como o século do regresso ao que é genuíno: as áreas do trabalho manual estão a ser revalorizadas e o artífice hoje é um criador. A procura de formação destes ofícios tradicionais está a voltar e a Fundação, que é certificada a nível europeu, é cada vez mais procurada também por estrangeiros. Os cursos mais procurados são as Artes e Ofícios da Madeira e a Pintura Decorativa e as formações disponíveis vão desde a licenciatura na Escola Superior de Artes Decorativas, e, na FRESS Forma, a formação de nível 4 (dois anos de formação que conferem certificação profissional e o 12º ano), a formação modelar certificada (pacotes de 25 ou 50 horas de especialização numa área), cursos de curta duração em várias áreas e as oficinas criativas. Estas últimas têm lugar no Mercado do Bairro Alto, um espaço da Junta de Freguesia da Misericórdia que foi reabilitado para dar continuidade à identidade do Bairro Alto como um bairro de ofícios. Por ser um espaço de passagem, é também um bom local para angariar pessoas para a formação e, nesse sentido, vai ter formação através de diversas oficinas criativas para jovens, adultos e crianças. O programa incluirá atividades em colaboração com diversas associações e instituições.
A Fundação defende que o uso de novas tecnologias é hoje uma oportunidade e um desafio para reinventar as Artes e os Ofícios, que sempre foram um trabalho da mão. A tecnologia vem permitir dar mais tempo à criação. No caso da Fundação, não é fácil passar de um modelo totalmente manufaturado para a integração de novas tecnologias, mas fazer todo o processo à mão, de facto, não é uma mais-valia. Um artífice hoje é um criativo que cria a partir de um material e de uma técnica. A tecnologia permite-lhe abreviar processos e tempos de produção, baixar preços para investir mais tempo no processo criativo.